sexta-feira, dezembro 29, 2006

Kamakura in one day.

Aproveitando o descanso de fim de ano que vem com as festividades, resolvi visitar Kamakura que foi a capital do Japao na era de mesmo nome e fica a pouco mais de uma hora de trem ao sul de Tokyo.
Antes de tudo, deixo registrada minha indignação quanto aos valores astronômicos das passagens para se viajar pelo Japão. De fato, se não fosse por muita pesquisa e a grande ajuda dos amigos bolsistas mais experientes minhas viagens seriam reduzidas a visitas esporádicas ao centro de Tokyo.
Basicamente há três maneiras de se viajar pelo Japão: por trem, avião ou ônibus.
Tomei a liberdade de excluir carro da lista pois minha habilitação por aqui vale tanto quanto as notas de um real que eu trouxe de lembrança. Bicicleta ou carona seriam opções interessantes se eu tivesse tempo a mais e uns neurônios a menos, respectivamente.
Mas a grande dica, o "bizu quente", é procurar pelos "Free Pass", especialmente quando o local é um ponto turístico importante (outra dica importante são os ônibus noturnos, mas isso fica pra outro tópico).
Como Kamakura fica a uma distancia relativamente curta, é possível ir e voltar no mesmo dia, o que é muito bom pois mesmo os Hostels mais baratos custam por volta de 3300 ienes a noite.
A Japan Rail, carinhosamente chamada JR, oferece um bilhete que vale por dois dias e sai quase o mesmo preço de se pagar cada passagem individual, com a vantagem de se poder utilizar a malha ferroviária da JR o quanto desejar na área perto de Kamakura.
Como meus planos eram de fazer uma visita de um dia esse bilhete seria um desperdício.
Além do livro "Lonely Planet: Japan" que eu comprei a alguns dias, pesquisei também na internet e encontrei dois sites muito bons para planejar viagens: www.wikitravel.org e www.japan-guide.com.
E foi neles que eu encontrei o Free Pass perfeito para um dia em Kamakura ( com uma visita bônus a Enoshima no meio do caminho ).
Varias pessoas do dormitório mostraram interesse em participar do passeio de modo que dia 28 as 7:30 estávamos todos prontos (quase todos, como em todo grupo) na cozinha, terminando de juntar as coisas para partir.
O passe funciona pela linha Odakyu, e pode ser comprado na estação Shinjuku que é o o ponto de partida.

Antes de ir para Kamakura paramos em Enoshima, para visitar a ilha que abriga alguns templos interessantes, um farol e uma multidão de gatos.

Em frente a estação de Enoshima


No meio da ponte que liga a Ilha a cidade, um dragão como guardião.


O portão de entrada para o interior da Ilha, logo depois das inúmeras armadilhas para turist... digo, lojas para turistas.

Uma oração aos deuses.

O templo no coração da ilha.


Um deus Dragão guardando a fonte.

Lavar algumas moedas em suas aguas faz com que se transformem em amuletos de boa sorte. É esperado que parte delas sejam adicionadas ao tesouro particular do dragão (talvez para ele comprar um obentou na loja de conveniência mais próxima ao invés de devorar algum aldeão desafortunado).

Praia, sol, ventos frios de 30 km/h, areia escura... bem, nos não viemos aqui pela praia mesmo. :)

Se escondendo do vento.

Como o tempo estava um pouco apertado, resolvemos ir o mais rápido possível para a estação rumo a Kamakura.


Visitamos alguns templos chegando lá, tendo que pagar para entrar em cada um achei melhor alertar o pessoal para o fato de que já passava muito do meio dia e no inverno começa a escurecer bem cedo.
Decidimos seguir a sugestão do livro que eu comprei e iniciar o trajeto em Kita-Kamakura, percorrendo um trajeto a pé que leva cerca de uma hora e meia.
Essa caminhada, ou Hiking, foi em minha opinião a parte mais legal de todo o passeio.


Ao longo das trilhas tortuosas, encontramos esporadicamente algumas residências que pareciam ter saido de alguma pintura antiga.
E também alguns santuários, ocultos em meio as árvores mas ainda assim muito bem cuidados.



Um dos pontos mais altos da trilha, aproximadamente no meio do caminho.


As ruas dão lugar a vielas, as vielas dão lugar a passagens estreitas que por sua vez dão lugar a trilhas de terra e rochas em meio as árvores.

Alguns degraus para facilitar o caminho (sim, aquilo a esquerda são degraus :).

Uma bela vista da cidade lá em baixo, em um ponto mais "civilizado" do caminho.

E, como não podia faltar; um gato aproveitando os últimos raios de sol, sem dar a mínima atenção aos turistas de plantão.


Estamos quase lá! O tempo estava se esgotando, e o sol já desaparecia por detrás das montanhas.

O que esqueci de comentar é que o nosso objetivo ao percorrer esse caminho todo era chegar ao local de eterna meditação do Grande Buda de Kamakura.
Ele foi construído por volta de 1252 na era Kamakura, mas costumava ficar dentro de um templo até que em 1495 um tsunami varreu a região, destruindo a contrução em volta.




Chegamos em cima da hora, faltava pouco menos de 20 minutos para que se encerrasse a entrada de turistas na área.



De fato uma das atrações, que consiste em visitar o interior da estátua por simbólicos 20 ienes, já não estava disponível. Fiz questão de tirar essa foto das costas do iluminado pois jamais imaginei que ele tivesse janelas.

Na volta já estávamos exaustos, mas contentes... o dia havia sido memorável.
Talvez uma visita de dois dias permitisse que visitássemos mais lugares e com mais calma, mas para aqueles que querem passar um dia fascinante em uma das cidades históricas do Japão sem gastar fortunas no processo; Kamakura é uma ótima escolha.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Cadê a minha neve?

Algo que sempre me deixou empolgado ao pensar em ir para um país de alta latitude foi a chance de encontrar uma paisagem coberta de neve.
Como morei no Brasil minha vida toda, e o frio mais severo que havia enfrentado foi no Rio Grande do Sul em uma época que era tão pequeno que já mal me lembro, a coisa mais próxima de neve que já experimentei foi o gelo que se acumula no freezer de casa.
Vindo para o Japão eu pensei: " Há! É agora que eu finalmente vou ter chance de usar aquelas luvas de frio que eu ganhei!"
Há muitos anos, meus pais deram um par de luvas de Ski para meu irmão e outro para mim. Desnecessário dizer que o numero de vezes em que fiz uso das tais luvas foi bem menor do eu gostaria. Não é segredo que eu prefiro frio ao calor, e quando horrorizadas as pessoas me perguntam o por que eu respondo:
"Bem... se esta frio geralmente o que agente faz? Coloca mais roupa. Se esta muito, muito frio, qual a solução? Colocar mais roupa, até o ponto em que há isolamento térmico suficiente para evitar a perda de calor."
" Agora... se esta calor, o que se faz? Tira-se roupa. Troca-se uma calca por uma bermuda, um casaco por uma camisa leve e por ai vai. Mas e se esta muito, muito calor? Tira-se toda a roupa?"
Ou seja, mesmo ignorando os dilemas do socialmente aceitável, existe um limite para o quanto se pode controlar a sensação de calor. Ar condicionado, ventiladores e outras parafernálias tecnológicas não contam pois podem ser usadas tanto em climas frios ou quentes.
Mas voltando o assunto do tópico; embora tenha usado bastante as luvas de frio, e tenha sido obrigado a comprar um cachecol, a temperatura mais baixa que enfrentei por enquanto foi algo em torno de 7 graus célsius.
Desde o inicio fui avisado de que em Tokyo quase não neva. Isso se deve a um sem numero de razões, como o fato de a metrópole em si alterar levemente o clima nas redondezas e também por ficar atrás dos Alpes japoneses de modo que a frente fria vinda do pólo norte não tem muita chance de se desenvolver na região.
Com isso em mente já tenho planejada uma viagem curta até uma cidade mais ao norte, mas relativamente perto de Tokyo, chamada Nikko.
Nikko tem varias estações de Ski de modo que se é neve que eu quero, lá eu devo encontrar... mas não por enquanto.
Por que "não por enquanto"? Aparentemente, um numero considerável de estações de ski ainda não abriram para a temporada de inverno pois não há neve suficiente.
Isso não é um problema para regiões como Hokkaido (a ilha mais ao norte) que tem neve suficiente, e as vezes até demais.
Mas o que me chamou a atenção para o fato foram diversas noticias em vários jornais do mundo. Na folha de São paulo pode-se ler sobre os efeitos do aquecimento global na europa; com estações de esqui cancelando reservas nos Alpes por ausência de neve e bancos negando empréstimos a resorts por medo da falta da mesma.
O monte Kilimanjaro perdendo sua cobertura de gelo em ritmo acelerado, e 2006 sendo registrado como o ano mais quente desde que alguém teve a grande idéia de registrar temperaturas. (US, Espanha).
Sem contar o desastre ecológico resultante, é uma surpresa irônicamente apropriada que os países desenvolvidos, responsáveis pela maior parte das emissões de gás carbônico e pela erosão da camada de ozônio, tenham suas economias negativamente afetadas pelos males que têm causado ao ambiente.
E no meio dessa bagunça toda eu me pergunto; cadê a minha neve?

terça-feira, dezembro 19, 2006

Cartões de ano novo.

Com a aproximação das festas de fim de ano resolvi pesquisar a respeito do costume Japonês com relação a cartões de natal e de ano novo.
No Japão as festas de ano novo, em especial o dia primeiro ou 正月(shougatsu), são extremamente importantes. Já o natal é muito menos comemorado, sendo mais uma época de celebração entre casais de namorados, tendo pouquíssimo da idéia de reunião em familia que temos no Brasil.
Uma curiosidade a respeito dos cartões de ano novo - chamados 年賀状(nengajou) - é que existe uma data limite até a qual os correios recebem os volumes monumentais de cartas e os "guardam" de modo que sejam todos entregues no dia primeiro de janeiro.
Na foto, um típico nengajo. Com o javali, a criatura do zodíaco chinês referente a 2007.

Não ouso sequer tentar compreender o pesadelo de logística que esse costume de milhões de japoneses deve representar para as agencias de correio, por medo de perder um pouco da lucidez que minha pobre mente ainda tem. Mas li em algum lugar que algo cada vez mais comum é o envio de cartões pela internet, seja por emails ou por algum dos milhares de sites especializados no assunto.
De fato, sempre sorrio ao lembrar o quão privilegiada é essa época em que tenho a sorte de estar visitando um pais do outro lado do mundo por um longo período de tempo.
Tivesse eu vivido cem anos atrás, ou até menos, teria que recorrer a cartas por via marítima para falar com minha familia e amigos.
Agora posso usar um dos muitos programas de tele conferencia para por em dia as novidades com meus pais, bater um papo sem pé nem cabeça com meus amigos, ou ficar até as 4 da madrugada conversando com aquela pessoa que a saudade tem apertado tanto.
Claro que, mesmo com todas as vantagens da internet, receber uma carta de alguém continua sendo especial. :)

sábado, dezembro 16, 2006

Robôs e templos.

Nessa ultima quinta-feira (quatorze de dezembro) ocorreu na embaixada italiana um Workshop sobre robótica, patrocinado pela embaixada italiana e com suporte tanto da Scuola Superiore Sant'Anna, quanto da universidade de Waseda.
Eu com certeza não poderia perder. :)
O evento começaria as 13 horas, calculei então que saindo direto da aula por volta de meio dia e dez, idealmente eu chegaria na embaixada com uma folga de uns 10 minutos.
Obviamente o mundo não é um lugar ideal... então como medida de segurança resolvi sair cerca de 15 minutos mais cedo.
Cheguei lá em cima da hora... de fato, confiar que tudo vai sair como planejado em geral leva ao desespero, ou ao desastre em casos mais sérios.
Já me auto-congratulando por minha capacidade de planejamento preventivo, descubro que o cuidado que eu tomei também foi tomado pelo pessoal do evento, e no final das contas eu estava adiantado quase meia hora.
Quem me deu a noticia foi Massimiliano, um dos responsaveis pela organização do evento e pesquisador no laboratório RoboCasa em Waseda.

Ele também me sugeriu utilizar o tempo extra e visitar uma Jinja (templo) que havia la por perto. Aproveitei e tirei algumas fotos.

O templo se chama Yasukini Jinja

e a estátua de bronze é de Ōmura Masujirō um estrategista militar na restauração Meiji.

Tive que passar muito rapidamente pelo lugar todo de modo que não pude aprecia-lo tanto quanto gostaria. Talvez eu volte um um outro dia com mais calma.
O workshop foi muito interessante, e com um "pequeno" desafio. A maioria das palestras seriam em Japonês!
Meu japonês esta engatinhando ainda, e com uma carga extra de termos técnicos eu não tinha certeza se sobreviveria para o segundo round ( logo após o coffee break :).
Graças aos céus havia tradução simultanea! Mas como destino raramente da algo de graça, a tradução era em italiano.

Surpreendentemente, fui capaz de entender cerca de 80% do que os italianos estavam dizendo, bem mais do que as partes em japonês.

sábado, dezembro 09, 2006

Compras

Uma nota a respeito de compras. E imagino que esse post seja mais interessante para alguém que esteja vindo para cá pela primeira vez. :)
Depois das primeiras semanas aqui em Tokyo consegui reunir um certo numero de locais nos quais fazer as minhas compras. De fato, cheguei a construir uma tabela com os principais lugares e as coisas que eu compro com maior freqüência, em especial comida.
Após algum tempo cansei do trabalho constante de manter a dita tabela atualizada. Mesmo por que já estava familiarizado com o esquema.
Basicamente faço minhas compras em 3 tipos de lugares: Supermercados, Lojas de conveniência e Lojas de 100 Ienes.
De modo geral, quando o assunto é comida, os supermercados oferecem os melhores preços. O bom das Lojas de Conveniência é que elas estão espalhadas por toda Tokyo, dos centros mais movimentados aos mais recônditos becos dos subúrbios, e oferecem de tudo um pouco.
Já as lojas de 100 ienes (100円Shop) também se destacam pela variedade, e tem o grande atrativo de que tudo custa 100 ienes (muito similar as lojas de 1 e 99 do Brasil :).
Exemplo: Comprar leite em uma das lojas de conveniência aqui perto custa entre ¥250 e ¥270. No supermercado já encontrei de ¥120 a ¥270. Enquanto que nas 100円Shops, bem... custa ¥100. :)
Obviamente a qualidade nem sempre é a mesma. Dá pra notar que o leite da loja de 100 ienes é um pouco mais fraco que o dos outros lugares.
Um ponto com o qual é preciso tomar cuidado é o fato de que as 100円Shops tendem a arredondar preços para deixa-los no valor padrão de 100 ienes. Assim, curry que no supermercado custa ¥80 acaba sendo arredondado pra cima.
De qualquer maneira, comprar e preparar a própria comida representa uma economia violenta no custo diário de vida. Como já devo ter comentado em outros posts, comida por aqui é muito caro...
Preparando minha comida devo gastar em media algo abaixo de 300 ienes por refeição. O lugar mais em conta que conheço para se fazer refeições é o restaurante universitário de Waseda (muito bom alias), mas que esta longe de ser a festa do Bandex da Unicamp. Há vários pratos diferentes, a maioria por volta de 500 ienes.
Se for comer fora então é bom se preparar para pagar entre 700 e 1000 ienes dependendo do lugar.
Alias, se eu quero impressionar alguém por aqui basta dizer que no Brasil nos pagamos cerca de 1 dólar por refeição, pode-se comer o quanto quiser, suco de graça, sobremesa e na saída ainda um cafezinho por conta da casa (obviamente me abstenho de comentar sobre o frango com pelancas ou o arroz com pedras).
Tai uma boa dica pro pessoal da CORI usar de incentivo para o programa de intercâmbio. :)

domingo, dezembro 03, 2006

Outono

Só para manter um acervo de fotos atualizado... aqui vão algumas fotos de Waseda com as folhagens de outono cobrindo as arvores na entrada principal.



E os enfeites natalinos já estão por toda parte. Na universidade existe um projeto, chamado "Illumination project", que consiste em enfeitar toda Waseda com luzes de natal.

Mas as luzes estão em vários lugares da cidade.


No sábado eu passei em frente a Nihon-kiin, que é a associação japonesa de Go.


O pessoal estava um tanto ocupado por lá, e como meu japonês ainda é muito simples minha visita foi breve.

(notar a abrangência da ultima frase da placa com os dizeres do que é proibido fazer nas imediações da estação Ichigaya :)

No caminho encontrei um pesqueiro, no meio de Tokyo, espremido debaixo da ponte Ichigaya.

Bem diferente dos pesqueiros que já vi no Brasil. :)